Há muito não falava, em determinadas épocas se esquecia de sua própria voz. Cumpria logo as suas obrigações para poder ficar sozinha sem que alguém a procurasse, vagava pelos cantos da sala de maneira imperceptível. Tinha mania de contar quantos passos dava de um lugar para outro, logo marcou toda a casa. Sempre adorou margaridas; colhia todos os dias um punhado e as colocava na janela. Passava tardes e tardes na janela.
Uma das suas poucas diversões era fazer bolas de sabão projetando-as para a rua, deixava sempre um copinho com sabão em uma escrivaninha ao lado da cama. O quarto se constituía assim: a cama era encostada na parede da porta, do lado esquerdo esquerdo ficava a escrivaninha, na parede à esquerda da cama estava a janela e, por fim, à frente da janela era colocada uma cadeira. Ninguém tinha consciência, mas nos últimos anos havia sempre um diário e uma caneta ao lado do copo com sabão; sua última anotação fôra: dói bem aqui - alguns meses antes do que chamavam enlouquecimento.
Pouco se sabe sobre ela, as pessoas costumavam não notar sua presença; às vezes um ou outro se surpreendia ao se deparar com ela ainda ali, soprando bolhas, mandando seus pensamentos pelo ar na falta de tinta para escrevê-los em papel.
terça-feira, 28 de agosto de 2007
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