quinta-feira, 23 de agosto de 2007

fico pensando na vida daquelas mulheres que foram criadas para o casamento, aquelas da pele bem branca e de traços mui finos, as mãos delicadas e macias de quem nunca pegou em nada salvo livros e teclas (?) de piano. eu não consigo deixar de pensar em como eu me encaixaria naquele estilo de vida, como seria minha fisionomia, minhas roupas, meus pensamentos, minha letra definida com a ponta da pena... de quem eu sentiria saudade? será que eu sentiria saudade? e meu marido, como seria? eu imagino que ele teria um cheiro suave de colônia e seria demasiado protetor, o imagino com uma barba rala e cabelo grisalho - acima de tudo eu o imagino rindo raramente. eu certamente teria uma biblioteca repleta de livros onde eu passaria horas a fio da minha vida, praticamente ela toda. meus filhos seriam estudiosos e inquietos ao mesmo tempo, o suficiente para também aprender com a vida. o cheiro seria um incenso bem suave percorrendo os longos e intermináveis corredores, sândalo ou cravo. antes eu pensava que morreria de tédio nessa rotina, agora me vejo encaixando em tudo perfeitamente bem, com um certo conforto. sinto que hoje eu renunciaria a tudo por esse conforto, esse horário do meu marido chegar em casa, o esquentar da cama ao anoitecer, a respiração profunda de whisky na minha nuca (todos os homens da minha vida tinham respiração de whisky); no fundo eu acho que preciso daquela certeza de quem não vai embora, mesmo que seja por um compromisso entre famílias; acredito que ao longo do tempo a gente se ilude e começa a achar que tudo isso é amor.

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