"só tenho vontade de escrever num estado explosivo, na excitação ou na crispação, num estupor transformado em frenesi, num clima de ajuste de contas em que as invectivas substituem as bofetadas e os golpes. Em geral, começa assim: um ligeiro tremor que se torna cada vez mais forte, como depois de um insulto que se recebeu sem responder. Expressão equivale à réplica tardia ou à agressão adiada. Escrevo para não passar ao ato, para evitar uma crise. A expressão é alívio, desforra indireta daquele que não consegue digerir uma vergonha e que se revolta em palavras contra os seus semelhantes e contra si mesmo. A indignação é menos um gesto moral que literário, é mesmo a mola da inspiração. E a sabedoria? É justamente o oposto. O sábio em nós arruína todos os nossos élans, é o sabotador que nos enfraquece e nos paralisa, que espreita em nós o louco para dominá-lo e comprometê-lo, para desonrá-lo. A inspiração? Um desequilíbrio súbito, volúpia inominável de se afirmar ou de se destruir. Não escrevi uma única linha na minha temperatura normal. E, no entanto, durante muitos anos, me julguei o único indivíduo livre de taras. Esse orgulho me foi benéfico: me permitiu escrever. Parei praticamente de produzir quando, apaziguado o meu delírio, me tornei vítima de uma modéstia perniciosa e funesta para esta exaltação de que emanam as intuições e as verdades. Só consigo produzir quando, tendo desaparecido subitamente o sentido do ridículo, me considero o começo e o fim."
tenho me apaixonado cada vez mais por Emil Cioran - e cada vez menos por inúmeros outros "seres".
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
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